quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não, não há mais tempo de não amais

Chiara Civello _ Il mondo
http://www.chiaracivello.com/web/biografia

Imagem dos deuses gregos Apolo e Dionísio. Na ilustração as enfermidades da alma.

Não, não há mais tempo de não amais 

Não há mais tempo a perder
Não há tempo para o mais sofrer
Hás de ser do aqui e do agora
Nessa busca que nos desenfreia

O prazer vaza-me entre os dedos
Como a areia do meu tempo
Pelo tempo ávido da imediatez
Precisamos tanto evitar essa dor 

A minha dor precisa ser negada
É tão evidente esse sofrimento?
Onde buscarei as outras faces da fé
Se em minha face da dor desapareço?

Quiçá minha dor seja a dor do outro
De viver a punição das tuas culpas
Fugirei em ti na timidez e na vergonha
Na compulsão expressa do sofrimento

Meu caos é a banalização do mal
Sou a era da surpresa iminente
Aboli nas fronteiras do desalento
O desamor no interior intempestivo

Perdi-me do caminho da aceitação
No exterior alegre das figuras 
Estou na medida da tua existência
Na angústia da modernidade

Esse medo que deforma o corpo
Tem a forma do feio, do magro
Do gordo impossível de ser aceito
Do medo do futuro e do insucesso

Esse irremediável medo do medo
O medo impossível de aceitar a paz
Dos descaminhos do aconchego
Abismam na depressão e na violência

No domínio inútil do tempo 
Convivo no medo da liberdade
Na tirania na dor da infelicidade
No consumo do próprio consumo

A agonia entre o caos e o trauma 
O eco surdo das almas vazias
O toque frio dos replicantes
Sangro, sangramos o amor se vai

Não, não há mais tempo de não amais