quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Densa neblina


O horizonte se desfez na alvura
Na densa neblina que paira
Sobre todas as coisas criadas

Cores vivas e opacas empalideceram
Mantas brancas cobriram as encostas montanhosas
Suavemente desapareceram na somatória das cores

Os caminhos paralelos já não se fazem infinitos
Nem os cruzamentos para um eventual encontro
Restamos sós e a pouca paisagem que nos rodeia

Restamos nós e a pouca imagem de nos mesmos
O que nos dá prazer e em outro instante nos causa dor
Todos os amores, rancores, a face oculta que nos odeia

A imagem efêmera hiberna sem o espelho
Flutuando divinamente entre as nuvens
Nos confrontando com o inevitável fim

Na densa neblina de nós mesmos
Marcamos esse breve encontro
O ponto de partida para um novo recomeço

Em verdade a poesia


Em verdades escrevi o passado
Pois feito e sacramentado ficou
Em verdades escrevo o presente
Pois fato, dia-a-dia, sacramentado está

Em verdades escreverei o futuro
Pois se em viver mentiras
Nada restará ao presente
E o passado me negará

Traduzo os momentos em poesia
Pois os momentos existem
E nem é ilusória a poesia
Traduzida em cada palavra

Por ter uma face oculta
Que há em todas as pessoas
Tenho um pouco das vidas alheias
E nas vidas alheias há um pouco de mim

O rio da vida


Como vertendo para a vida
As lágrimas do primeiro choro
Guardado no instante nascente
Represada no insípido berço

Minando na alvura do papel
Como um leito de areia fina
Nasce a mistura divina
Cristalina água pura

Dos cumes das montanhas
Com a pureza das pedras preciosas
Faz nascer a vida em suas bordas
Vindo ao mundo empelicado para a morte

Vislumbrando o início das corredeiras
Murmurando canções entre as pedras
Assiste o verde por entre a densa mata
O ciclo da vida que nela se faz cúmplice

Ao encontro de outras vertentes
Unindo-se em outras deságuas
São pés de amoras, borboletas e pássaros
Em sinfonia ao som em natureza

Em vertiginoso desafio aos obstáculos
Erosando as margens sobre as pedras
Abre-se o véu em cachoeiras
Cristais em gotas coloridas de arco-íris

Sob o sol que evapora suas preces
Segue pelos vales e planícies
Irrigando as terras, as plantações
Saciando a sede dos animais

Abranda as aves nos raios de sol
Envolvendo os peixes colorindo o leito
Segue como rio curioso beirando as cidades
Recebendo o veneno daqueles que a sede sacia

Ressentes em teu leito de agonia
Densamente margeando as encostas
Lembras como o perfume era inodoro
Tão ingenuamente conduzindo a vida

O mar já não te auxilia em vida
Apenas o acolhe nos braços de areia
Como um filho morto pela avareza
Morrendo de tanta humanizada ignorância

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A vida da poesia


Encontre uma inspiração em silêncio
Mesmo que o cansaço na beira da estrada
Quando no sol arder a pele e a alma
E o tempo seguir tuas palavras escritas

E quando a chuva passar pela vida
E somente o céu e o mar ficarem
Tu, teu sonho, o sol, a chuva e o tempo
Em passaredo passarem sem poesia

Pois a cada página de palavras imóveis
Caladas, silenciosas e inertes
Aguardando indiferentes a tua ordem
Te restarão surdas, caladas e intatas

Repousando entre as capas de um dicionário
No fundo do velho baú empoeirado
Como fincadas nas rochas fartas de limbo
Se escondendo de tua agonia, corpo e vida

Indiferentes as tuas dores, aos teus amores
As tuas jóias raras ou raras de brilhantes e rubis
A poesia continuará esperando, esperando...
Até que todos os esqueletos saiam do teu armário

E no curso insone da noite enluarada
Amanheças fria e coberta de úmida neblina
Todas as palavras estarão gotejadas em tua retina
Com o teu olhar descobrindo a eleita entre as mil faces

Neste convívio despertas após árdua caminhada
Que as palavras correm no rio de labirintos em tuas veias
E a poesia estará diante dos teus olhos como desejas
Como deseja a poesia em ter reconhecida a própria vida

O tempo da mente


Se és auto-suficiente em tuas lamúrias
E o tempo boceja em tua sonolência
A vida fica lá fora, nas ruas, apenas observando
Como os rios para o mar num caminho sem volta

Se em tua clausúra nem se dá conta
Andando vestida de branco pela casa escura
Em cada sinal o pânico em plena liberdade
Levantas muralhas em torno da mente

Loucura, loucura, loucura
Essa abstinência da vida em existência
No alto da torre em plena demência
Nem se dá conta que moras no próprio túmulo

A mente parada no tempo, recriando vidas alternativas
E tu caminhas por outras vias em paisagens eletrônicas
Amores cibernéticos, amigos se excluindo em retiro
Cais da torre suicida, a liberdade é o tempo da mente

O tempo se vai com inveja de ti, sem poder parar
Sem poder esquecer o passado, estar no presente
Num caminho incessante rumo ao futuro
Mas ele ri, sorrateiramente, levando consigo a tua vida


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O amor destilado


Ficarias magra para atender aos pedidos?
Quem te pede tal leveza?
Certamente não te apalpa os ossos.
Nem se ausenta o teu peso sobre o corpo.
Como te amar sem tuas rugas?
Num abdómen sem expressão
Sem dobras no relevo.
As pessoas se transformam
Se transformando de si mesmas
Implantam cérebros de silicone
Se inflam de botoxes de esperança
Fazem lipo aspirando as amarguras
de suas entranhas até sangrarem
Para atingirem a própria inexistência
Depois de tantos banhos de espuma
Muitas das fragâncias se passam em pelo
E a cada dia me desoriento
Como te seguir se na multidão perco o faro?
Entre tantos padrões de beleza em série
Tantas são as variações das essências
Essencialmente elaboradas com esmero
Num laboratório chamado esperança
E eu, esse animal primitivo, fico disperso
Se, e quando, te encontro
Te abraço sinteticamente
Com um beijo destilado

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Simplicidade


Sou um poeta que não necessita de amores
A mim basta uma lua e algumas estrelas

Não serei o poeta de um mundo maldito
Onde mais se destrói e se desarmoniza

Serei sim o poeta de inspiração estelar
Assistindo o verde e o mar findando

Não sou um poeta de inspiração entristecida
Apenas observo os malditos acabarem com o mundo

Não serei o poeta caduco de um mundo acabado
A mim basta uma lua e algumas estrelas

Serei um poeta na simplicidade do que penso
O restante é efêmero e muita cumplicidade

Escuridão


A noite tem o brilho da lua
Solidariamente taciturnos
Os cães ladram nas ruas

Como se unidos pudessem
Amanhecer a noite em luz do dia
Afuguentando todas as sombras

Não se importando com o tempo
São as sombras do passado
Que obscurecem o presente

Continuamente como lembranças
Percorrendo as noites e os dias
Como a inversão plena da imagem

E no momento oportuno do destino
Agiganta-se sombriamente sobre a imagem
Deixando apenas o vazio sem sombras

domingo, 29 de novembro de 2009

O amor


Diante dos olhos dormes serena
Renascendo o amor dentro de mim
Despertas um coração pleno de ternura
Sobre o leito a senhora dos sonhos

Com encantamento te assisto
Teu corpo desabrochando em flores
São pétalas em luzes multicores
São os teus aromas e segredos

Te transformando em meu jardim
Com o olhar nos canteiros de flores
Meu descompassado coração
Percorre e mergulha, profundo e latente

Em teu mar bravio a tempestade
Sussurando os teus desejos
No silêncio do teu querer dizes tudo
Enquanto somas os pedaços de mim

Todos os teus medos e segredos
Desvendando o meu anoitecer
Que não me basto e te preciso
Te preciso para ouvir as estrelas

Te preciso para salvares de mim
Alcançar as minhas montanhas
Perder-me em longos abraços
Acordar sentindo saudade ti

Resgatar-te dos meus sonhos
Tornando-a em minha realidade
Reconhecê-la em todas as estações
Preciso encontrar-me no teu amor sem fim

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Tempo do medo


Sobre o frio cristal transparente
Como o vento por entre os dedos
A mão do tempo, no presente,
Cria a imagem dos segredos

Ilusória idéia de juventude imortal
Onde as horas se somam infindas
Tornando o medo sobrenatural
Contando as relíquias escondidas

Estar só e rodeado pelo medo
Diante da morte nascido para a vida
Nascido para, tarde ou cedo,
Termos a eternidade concebida

Se morremos no amor a cada instante
A cada dúvida, na falta de beijos
Se nascemos no amor extravasante
Na dor incontida, sob todos os desejos

Nascer e morrer em cada verdade
Dos momentos transitórios, a essência
O medo efêmero que se desfaz
Na eternidade a consciência

Amar sem razão para amar
O amor em sua própria transcendência
Como as estrelas que não vemos,
Em própria resplandecência

Restarás eterno...

Suave anoitecer


Com o passar das horas do dia
A tarde morre aos poucos
Como a esperança que morria
Na noite taciturna dos loucos

As nuvens sobre as montanhas
Na escuridão ocultando as cores
Nebulosas e disformes obtinhas
Da mente lembranças e dissabores

Profundas recordações do passado
Como as raízes de um baobá
Não digas que o passado interdirá
Se no futuro nada há consumado

Eis as brancas páginas do presente
Como o branco muro nas ruas
Sem nada escrito transcendente
Como as fases da lua, continuam tuas

Ao lado teu fico calado
Silêncioso entre as palavras ditas
No mágico interlúdio imaculado
Anoitece sob as luzes eremitas

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Na janela do tempo


Na luz tênue refletida
A saudade aérea e rarefeita
Consome um naco e tanto
De uma parte de mim
Apago a luz e não verei

Pior que a insistência do vazio
Sob o manto da escuridão
Qual indecifrável esquecimento
Ser a dor constante enfim
Acendo a luz e não sentirei

Os lábios confessarão o segredo
Que na musicalidade de um beijo
O coração descompassa o ritmo
Buscando a harmonia do desejo
Tapo os ouvidos e não escutarei

Almas se mesclam em energia
Plenas no silêncio das palavras
Muito além das carícias que enseja
O instante absoluto do momento
Paro no tempo e não calarei

Sem limite de esperança
Na ansiedade da espera
Pudera o firmamento
Dissimulasse de jasmim
Sob a luz divina e findarei

Passante pelos vários mundos
Desvendando todos os segredos
No tempo que os manifestar
No curso dos teus sagrados dias
Sei, até lá saberias, mas eu não mais existirei

Pelas palavras


As palavras que ontem voavam soltas
Sem sentido como a vida esguia
A vontade da alma quando o corpo seguia
Estas mesmas palavras aguçando o presente

Agrupando-se, declarando a tua falta,
impunemente...
Denunciam sem lógica distância o teu amor
N'algum lugar extremo, no vazio das minhas mãos
Rebeldes palavras num jogo de frases em nãos

Formando um sentimento de vida própria
Represando águas, refletindo a tua ausência
Numa superfície de sinônimos da minha imagem
Reescrevendo as gotas de chuva sobre a tez
Mesclando-as em lágrimas tais poesias e canções

Criando aos milhares os meus sonhos e fantasias
Trazendo a miragem dos teus olhos aos olhos meus
São tuas palavras que correm soltas pelo vento
Em ventanias elevando as folhas, a areia da praia
Formando as ondas na superfície das tuas pegadas

Um corpo moreno de sol em adjetivos plenos
Sob os guarda-sóis com o dia a pino
Palavras buscando palavras
Perdidas numa tardia praia deserta
Recolhendo palavras como conchas vazias

Criam vida, rebeldia e denunciam
Que o amor aconteça antes da morte
Aprisione-as antes que tardia em poesias
Antes que tarde seja como morrer de amor
Pois se morro em palavras, não te digo

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A chuva e a flor


No jardim do amor
A chuva sobre a flor
Cai como lágrimas
Gotejando sobre a dor

Nossos caminhos cruzados
Num breve encontro de mãos
Tantas palavras não ditas
Descritas nos gestos de adeus

Infinito momento de breu
Se guardando para qualquer dia
Um outro destino, outro acontecer
Distantes das paisagens inertes

Calam nos teus segredos
O amor e o ódio pelo avesso
Que na saudade principia
O solitário caminho do eu

Na ventania da paixão
Esse tão descuidado coração
Fechou os olhos da razão
Semeando no tempo a saudade

Agora de longe te assisto
Teu corpo banhado de sol
Todo esse amor te daria
Salvando minh'alma da agonia

Nesse jardim do amor
És a mais bela flor
A chuva cai entre lágrimas
Gotejando sobre a minha dor

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poema Inacabado


Dos seus olhos ser o desejo
Da sua boca a infinidade dos beijos
Quisera meus lábios percorrer teu corpo
Em cada gosto ter o paladar do deuses

Seduzir-me com teus aromas
Ser teu Eros em tua perdição
Nesse desejo infindo
Ser teu poema inacabado

sábado, 10 de outubro de 2009

Meu coração


Quisera dar-te a dor de todos os meus ais
Todos os momentos de loucura e insensatez
As sensações do vento frio sobre a pele
Das buscas desgovernadas pelas noites

Quisera dar-te o vazio das noites insones
Do peito a solidão festiva de falsas emoções
Dos olhos a tua imagem disforme na neblina
Deixando-te transpassar como luz pelo corpo

Quisera dar-te todos os segredos nobres e pagãos
Um a um, desvendando teu nome lapidado em desejos
Enveredar-te nos campos insanos dos girassóis
Onde escrevo teu nome em vermelho sangue

Quisera dar-te a melhor das mentiras convincentes
Sabendo que em teu coração soarão como verdades
Apertando em minhas mãos a lâmina da falsidade
Felicitando-me, egoísticamente, por tamanha infelicidade

Quisera dar-te o meu coração, desfalecido e retalhado
Acostumado a pulsar doente pelos desejos platônicos
Deixá-lo em tuas mãos, recriá-lo em tua dimensão
Um coração vazio de segredos a espera do teu amor

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Imprescindível ( Mercedes Sosa )




O que pulsa no coração
Corre pelas veias
Transborda em lágrimas
Umedecendo a terra
A quatro mãos...
Celebrando o amor
Construindo a paz
Perpetuando a vida
Rumo a eternidade
Imprescindível...
A arte de viver
A vida com arte

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A solidão



Se a noite nos incomoda com doces lembranças.
Farfalham os lençóis sussurrando aos nossos ouvidos.
Não nos incomodemos se nossos braços buscam o abraço ausente.
Se a imperceptível melancolia nos incomoda com a insônia.
Não relutemos em dar boas-vindas a quem de longe chega.
Sejamos sinceros e solidários a esta rejeitada amiga.
Com mãos afetuosas estendidas a acolheremos em descanso.
Tenhamos o melhor de nossos corações em oferenda.
Sejamos francos em compreendê-la com carinho.
Se fomos felizardos de um destino do amor comum .
Nós sabemos o que nos inspira toda essa nossa confiança.
O mais sincero entre nós dois a reconhece das desventuras.
Pois, ora sabemos, ninguém é mais solitária que a solidão.
Essa insensível dor hospitaleira persistente de vazio.
Levantaremos os nossos braços entrelaçados num brinde.
Isso é o que nós torna sábios e sóbrios em autoreclusão.
Embeberemos nossas mágoas no alto teor das lágrimas.
Comemorando no silêncio o incontido desejo ser feliz.
E nesses momentos solitários lapidaremos as melhores palavras.
As que possam revelar todas as emoções transitórias do pensamento.
Sombreando nossos olhos no tempo de muitas páginas e ricas estórias.
Nem os papéis em branco faltarão em homenagem para um lindo poema.
Nesse único momento de criação, uma linda canção embalará o seu coração.
Deixando em devaneios as suas emoções transbordarem nas aventuras.
Nessa corajosa busca inconsequente da transparente e necessária solitude.
Com o coração em penitência, sua mão será o guia das doces orações.
Frase a frase, mesclando melancolia e mágoas em suas estrófes.
Serão como as súplicas de um reincidente aprendiz no amor.
Edificando com preces divinas o nosso mágico templo de contos e versos .
Consagrando aos céus a justa recompensa da necessária solidão.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

As imagens



No instante em que nos vemos.
Somos os espelhos de nós mesmos.
Traduzimos nos olhares reluzentes.
Na mesma frequência do que somos.

No instante em que nos vemos.
Somos dois nos espelhos opostos.
Perdidamente desejosos.
Do infinito labirinto de nós mesmos.

No instante em que nos vemos.
Nos tocamos em carícias no reflexo.
Num desejo mútuo instantâneo.
De nos termos e nos amarmos.

No instante em que nos vemos.
Somos pares cada qual em seu espelho.
Infinitamente amor ou ódio.
Seremos as eternas imagens.

No instante em que nos vemos.
Seguiremos nossas vidas em paralelo.
Com a intensidade do medo que nos distancia
E a luminosidade do amor que nos faz elo.

No instante em que nos vemos.
As mudanças do tempo nos farão sensíveis.
A cada ângulo morremos um pouco.
Paralelamente viveremos ao infinito.

No instante em que nos vemos.
Somos transparentes um ao outro.
Imagens e semelhanças dos pares
Viveremos fugitivos da escuridão.

No instante em que nos vemos.
Inseguramente saberemos
Que somente existiremos
Sob as luzes de nós mesmos.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma poesia distraída



Uma ausência sem desculpas mas, que merece presença.
A presença de uma ausência consentida, ressentida.
Uma ausência esculpida de vazio.
Quebrando a continua presença da vida.
Aquilo que, naturalmente, não se admite mas, se permite no final.
Da eterna amizade fugidia, se esquivando das convenções.
Mesmo que, integralmente, a culpa seja minha.
Estar presente ao seu sorriso tímido e acusador.
Essa ausência de palavras, das prosas, de versos.
De bilhetes, dos dedos de prosa em conversa afora.
Como se impedindo o outonal das tardes no outono.
Tens razão, quando me culpas de não ser banal, de não ser cotidiano.
De não ter saudades do corriqueiro, da mesmice dos mesmos dias.
Cúmplices por essa saudade, saudades por sermos ausentes.
Talvez seja até mesmo aquela saudade de nós mesmos.
Das lembranças do que outrora fomos.
Dos nossos anseios do que no presente somos.
Do que seríamos em nossos sonhos em comum.
Nessa dinâmica compartilhamos da saudade do ausente.
O doce sabor da ausência de uma saudade carinhosa.
O sabor da saudade com o teor da ausência.
Com a sua falta vestes a sua presença.
De um tempo agora sem tempo.
Por todos os momentos que existimos juntos.
Quando ríamos de tudo e chorávamos por nada.
Dos muitos momentos, do ombro ao ombro, solidários.
Quando ríamos por nada e chorávamos por tudo.
Da ilusão os nossos olhares maravilhados.
Pelo fascínio de ter vivido a ilusão de cada instante.
Essa saudade que a cada momento insisto em reviver.
Como num suplício impedimento do cair das folhas.
Nessa querença desmedida de transpor-se ao tempo.
Quando o vazio é maior que o silêncio das palavras
Quando na ausência não te encontro e tropeço no nada.
Qualquer hora escrevo, descrevo essa saudade de você.
Num momento em que a saudade estiver ausente.
Te deixarei de presente uma poesia distraída.


domingo, 27 de setembro de 2009

A musa



Defronte aos olhos o mar extasiante
Tu és perfeita em harmônica natureza
"Quem pode ser infeliz diante de tanta beleza?"
Cruel distância que nos destina a ausência

Aos olhos meus que a tua imagem não alcança
Morna e mansa a tua brisa canta e não perfumas
As paisagens com teu semblante mesclado
Sorrindo a esperança de um amor divino

Teus versos clamam entre os sons
Das gaivotas festeiras ao ciclo das ondas
Ao sopro magestoso do vento
Flutuas como uma canção pelo ar

Vais em vida como numa canção de amor
A quatro mãos compomos em harmonia
Esta tua felicidade sinfônica reverencio
Com esta ode a senhora dos meus sonhos
A musa dos meus versos de amor

"Canção de amor"

São eternos seus momentos
São mágicos teus gestos
Das teclas, o branco e preto
Brando encanto nas oitavas

Silenciosamente pausas
Desejosos de harmonia
Nessa canção me perderia
Na musicalidade do teu corpo

Meu coração fica a mercê
Nas vibrações das cordas
Tatuo em minh'alma tuas clavas
Pedindo asilo em teu sentimento

Pelo teu amor divino
Sou teu anjo torto
Entrego o meu corpo
Meu par de asas

Em espírito murmuro a prece
Pelas mãos que fazem sonhos
Teu rosto em riso que aparece
Anunciando em versos meu destino

sábado, 26 de setembro de 2009

Brevidade



Adeus!
É o tempo...
Cedo para amar-te.
Tarde para ter-te.
Nessa brevidade da vida.
Levo um pouco de ti.
Deixo um pouco de mim.
Deste desencontro,
Nunca mais seremos os mesmos.
Passamos por este intervalo
Entre a vida e a morte.
Amando-nos, fazendo arte.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um dia o amor




Um dia
Entre tantos...
Entre si os olhares.
Divagando nas dúvidas.
Nas mudas reações.
A indecisão entre os corpos.
A pele molhada...
Corações aquecidos pelo sol.
Entre o sol, os nossos corpos e a chuva.
Clamando carícias, emitindo sinais.
Atentos olhos de brilho inquieto.
Alertando os rumores, os tremores
Incontidos desejos de amar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um grão de areia



O olhar quedou oblíquo
A êsmo os pés caminham
São as mesmas calçadas
Pela mesma areia
Insensíveis carícias das ondas
O toque suave da brisa
Não há no horizonte o azul
Mesclando ton sur ton
O mar azulado de céu
O céu azulado de mar
O mudo quebra-mar já não ensurdece
Nas ondas o som sobre o som
Deslizando sobre a areia
Apagando todos os rastros
Somente finda uma história
São as gaivotas festeiras
Um grão de areia
O cisco no olho
O olhar mareado
Essa maresia

sábado, 5 de setembro de 2009

No caminho da luz



Astro rei em tua grandeza
Dourado manto te acalentas
Na maciez da pele te aquece
Refletindo nos longos cabelos
O sedoso cintilar o teu brilho

Na umidade que se faz nos poros
Transpiras o teu perfume na brisa
Moldurando os sonhos e meus desejos
Nas suaves curvas bronzeadas
A tua delicada carmurça de orquídea

Sou cativo do teu olhar afetuoso
Nos rosados lábios rendendo-me inteiro
Em teu sorriso a ternura de amar
Teu jeito feminino de ser primavera
E nos verões se desnudar em flores

Percorro todas as tuas tristezas
Em cada momento dividir teu pranto
Sem buscar todas as respostas
Nem querer saber se vale a pena
Lado a lado, a vida com novas perguntas

Alçando vôo numa viagem da vida
Ouvindo os corações em silêncio
Na tênue linha entre a razão e o amor
Na mesma direção dos olhos nos olhos
No caminho da luz em nós mesmos

A tua presença


Quando acordo pelas manhãs
O sol admirando teu corpo moreno
Vejo em teu leito a luz da janela
Teu suave repouso no branco da nuvem

Olho teus longos cabelos negros
Reluzindo em curvas delineando o rosto
Como posso tanto amor, tanto querer?
Se nem sorriu, se nem olhou para mim

Tantas palavras tuas escritas no ar
Dizem das mágoas que vivem em teu coração
Falam de teus amores, sonhos e canções
Tristes histórias que não tiveram fim

Traduzem as mágoas na tua descrença
Percorrendo os labirintos do desamor
São as juras de amor no coração ferido
Sussurando preces benditas a alma

Como posso te dar a minha crença?
Desejando o milagre da felicidade
Te presenteando com a via láctea
Lembrar-te das coisas belas que há em ti

Entrego a minha paz de todos os dias
Das minhas preces o pedido de ser feliz
De todos os meus sonhos o teu acontecer
Quero te fazer amar e tenho de ti só a presença

Entre as estrelas


Contemplo agora o meu nascer
Depois de tanta escuridão
Buscando em ti a transcendência
Das minhas noites que são tuas

Esvai de mim o viver
Se te faço amar na dor
Do meu querer nas entrelinhas
A minha insensatez em teu ser

Nessa névoa invísivel do medo
Minh'alma se cala cúmplice da tua
O silêncio denuncia tanto saber
Sem saber se só existem juntas

Sentir-te ao lado conviver
Na intensidade de um amor
Tendo-a nos braços aninhas
Perdoas meu desamor embevecer

Neste meu olhar perdido no infinito
Busco o brilho raro dos olhos teus
Entre as estrelas uma órbita celeste
Desejos d'alma que os corpos realizam

Partilhando a tua dor no anoitecer
Sufoco minha alegria no amargor
Tenho as insones noites que caminhas
Pelo desejo de contigo estar no amanhecer

Resplandeces no azul manto da noite
Como as estrelas nas noites inquietas
Detenhas meu amor em segredo
No teu coração deixa viver


Alquimia


Caminhemos não importa para onde,
Estaremos juntos simplesmente,

Pela via onde nossos corações celebrem a paz.

Mergulharemos no nosso mais íntimo desejo

Em busca da dor em si mesma.

Encaremos friamente nosso medo

De termos tudo para não sermos nada.

Contemplei a vida com minha armadura polida.

Com a lança em riste matei dragões.

Construí os castelos da fantasia.

Expandí as fronteiras das possessões.

Cavalguei pela ponte entre os sonhos e as ilusões.
Vaidoso acumulei a riqueza para o ter.
Hoje sou prisioneiro dos meus escudos.

Olho firmemente para dentro dos meus olhos.
Nenhum pigmento me fará rubro a palidez da anima.
A solidão conspirou no curso da minha existência.
De desamor caí em espiral para dentro do meu infinito.

Caí da torre do orgulho partindo-me em pedaços.
De onde, soberanamente, abraçava o mundo.
Vem comigo para que eu possa te mostrar a solidão.

Caminhe comigo com os pés descalços sobre a terra.
Pegue a minha mão trêmula e abrace a minha alma frígida.
Nada lhe será temeroso, se meu coração só existe no anonimato.
Vem mostrar-me o caminho que busco para dar-lhe um nome.
Não importa quantas pedras no caminho terei que pisar.

Saberei que nessa direção não sentirei ainda mais a dor.

Vem ao meu lado, ensina-me as canções para sonhar

E eu as cantarei para seus pés dançarem.

Vem, ensina-me a dançar as canções do seu coração
E dançarei embalando seus sonhos e devaneios.

Vem, abre o seu coração e escreva uma poesia que fale de amor.

Mostre-me o medo dos nossos limites e os erros do futuro.

Vem, soltando a sua voz branda recitando a sua poesia

E a cada estrófe que nela contenha o perfume de cada flor.

E eu me sentirei inebriado com os aromas a cada verso declamado.
E quando a brisa trouxer sua essência e tocar meu coração.
Saberei que és única como a camurça da pétala que te reveste.

Quão doce e úmida é o desabrochar de uma flor madura.
Vem, toque meu corpo e ensina-me à alquimia dos magos.

E dessa química de suores destilaremos a pureza de amar.
Encontrar-te-ei nas entre linhas dos teus versos.

Com o brilho do sol refletindo o seu semblante.

A sua inspiração me fará seguir avante com seu olhar esperançoso.

E em sua companhia saberei chorar todas as lágrimas contidas.
Dá-me a sua mão e ensina-me a voar e voar até às alturas.

Quando na altitude de cruzeiro, mostra-me a liberdade para amar.

Tocaremos as nuvens umidecendo nossas faces e nossas auras.

Voaremos livres pelos corredores de vento em silêncio.

E a cada mudança de atitude consciente, estarei caindo e caindo.

E poderei repousar a minha cabeça em seu ombro solidário.

Um cavaleiro sem batalhas, despojado de armadura e lança.

Sem medo de curvar-se, rendendo-se ao toque singelo de um amor.

Saberei ouvir que não sou hoje mais egoísta do que fui no passado.
Que nessa empírica viajem a esperança semeou em campo fértil.
Para colher a transformação de todo o universo de mim mesmo.

Caminhemos não importa para onde.
Estaremos juntos simplesmente.

Pela via onde nossos corações celebrem o amor.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

No mar do tempo


De mim esta ilha deserta
O último frasco lanço no mar revolto
Única lembrança "in vitro" do teu perfume
Do suave aroma que guardo em memória
Sem ter mais onde, só uma mensagem

Perdendo de mim um dos tesouros
Um amargo bilhete lamento no verso
Da folha transcrita com a tua poesia
São palavras colhidas sob o luar
Nas entristecidas noites de estrelas caidas

Na areia onde corpos um dia souberam amar
Dois corações que a emoção insistia querer
A última esperança divina de amar em paz
Com todos os caprichos de uma canção
Que o tempo enternecido parou para ouvir

Sei hoje o lamento que dissolve n'alma
Quando trazes no choro do olhar o destino
Os teus lábios trêmulos em partida de adeus
No mar do tempo entrego a saudade de amar
Dentro um bilhete no frasco por todos os mares


sábado, 29 de agosto de 2009

Secret Garden


Dawn Of A New Century
(Tradução)

Imagine...
Nosso planeta flutuando silenciosamente no espaço.
Ao seu redor, uma pomba branca voa sempre circulando.
Todos os cem anos, a asa da pomba.
Com suavidade toca a superfície da Terra.
O tempo que levaria para a asa emplumada
Usar este planeta até nada. . . é eternidade.
Dentro da eternidade, o tempo passa.
Dentro do tempo, há mudança.
Logo, a asa da pomba branca...
Vai tocar nosso mundo novamente.
O amanhecer do novo século...
Tempo para um novo começo...
Agora é eternidade
Ao surgir do
Amanhecer do novo século
Mil anos
De alegria e lágrimas
Nós deixamos pra trás
Amor é nosso destino
Celebre o
Amanhecer do novo século
Deixe vozes soarem
Regojizarem e cantarem
Agora é a hora
Agora é eternidade
Amor é nosso destino
Amanhecer do novo século
--Rolf Lovland

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mea culpa, mea culpa...


Nos ponteiros das horas
O tempo passou
Perdi o trem
A felicidade passou
Não a reconhecí
Levou a minha paz
Hei de chorar...
Chorar até o final dos tempos
Guardarei a tua dor
Tamanho espaço no peito meu
Ficará em mim o vazio de amor


Na janela do tempo


Na luz tênue refletida
A saudade aérea e rarefeita
Consome um naco e tanto
De uma parte de mim
Apago a luz e não verei

Pior que a insistência do vazio
Sob o manto da escuridão
Qual indecifrável esquecimento
Ser a dor constante enfim
Acendo a luz e não sentirei

Os lábios confessarão o segredo
Que na musicalidade de um beijo
O coração descompassa o ritmo
Buscando a harmonia do desejo
Tapo os ouvidos e não escutarei

Almas se mesclam em energia
Plenas no silêncio das palavras
Muito além das carícias que enseja
O instante absoluto do momento
Paro no tempo e não calarei

Sem limite de esperança
Na ansiedade da espera
Pudera o firmamento
Dissimulasse de jasmim
Sob a luz divina e findarei

Passante pelos vários mundos
Desvendando todos os segredos
No tempo que os manifestar
No curso dos teus sagrados dias
Sei (até lá saberias) e eu não mais existirei

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A lua que me resta


Nasceu em mim a tua presença
Mostrando-me a tua dor
A ela transpus-me louco
Peito aberto de amor

Em teu rosário uni-me em tuas preces
No teu sorriso a minha alegria
Das tuas lágrimas a amargura
Sou tuas promessas de desventuras

Percorres pelas minhas artérias e veias
Reconhecendo a cada tecido do que sou feito
Asfixia-me a saudade e venosamente clamo.
Oxigena-me a alma

Enfraquece-me o teu silêncio
Sentenciando-me ao suplício da noite
Negas ao luar adentrar pelas frestas
Suave teu cálice transbordas

Sob a lua que me resta
Cala-me de amor e beijas

terça-feira, 25 de agosto de 2009

No silêncio do sorriso


Longe das mãos meus desejos
De olhar o céu nos olhos teus
A fria garoa do tempo nos para
Separa as lágrimas na mesma dor

Entristecida lua sem lampejos
Se cobre de nuvens de adeus
Esconde na dor que me desampara
Na ausência do teu rosto alentador

São intensos frios em mim malfazejos
Sentindo tuas lágrimas nos lábios meus
Molhando o triste beijo que de mim a separa
De estar entregue aos espinhos do desamor

Resgatar a beleza das estrelas aos realejos
Renascer teu sorriso nos sonhos apogeus
Iluminando com as estrelas o teu sono aclara
Sobre o leito de flores teus sonhos de amor

O incontido desejo de amar-te nos versejos
Sangra-me aos poucos a sina do semideus
Mortal a cada esquina pela felicidade se ampara
No divino bem querer no coração o teu amor

domingo, 16 de agosto de 2009

O encontro - de almas


Por todos os nossos passos
Desalmada espera infinda
Pelas noites derramando luares
Por todos os sóis iluminando a tez

O tempo no rosto e os taços
Dentro de nós o vazio ainda
Nesse desencontro de lugares
Numa incerteza que o destino refêz

Recorrente incerteza dos abraços
Só tua imagem reside a mente
Fortalece a saudade que insiste
Dentro em mim esse vazio de nós

Pelo descaminho da eternidade
Passado, presente e futuro
São iguais tempos de solidão
No acaso da sina na vida que gira

Persigo as pegadas na areia
Perdendo-te nas ondas que as desfaz
Quanto mais viver nesse desejo
Razão única do andar perdido

Sentir-te existindo em outros mares
Cochichando poesias ao vento
Se minh'alma reside em teu corpo
Te encontrem os versos que afloram

Sejam mais que perfeitos sonhos
Em enigmática vivência de felicidade
Iluminando tua alma em meu corpo
Na cumplicidade do amor perfeito

sábado, 15 de agosto de 2009

Brevidade



Nunca é tarde...
Ou cedo para amar-te.
Ou tarde para ter-te.
Nessa brevidade da vida.
Levo um pouco de ti.
Deixo um pouco de mim.
Deste desencontro,
Nunca mais seremos os mesmos.
Passamos por este intervalo
Entre a vida e a morte.
Amando-nos, fazendo arte.

A Solidão



Se a noite nos incomoda com doces lembranças.
Farfalham os lençóis sussurrando aos nossos ouvidos.
Não nos incomodemos se nossos braços buscam o abraço ausente.
Se a imperceptível melancolia nos incomoda com a insônia.
Não relutemos em dar boas-vindas a quem de longe chega.
Sejamos sinceros e solidários a esta rejeitada amiga.
Com mãos afetuosas estendidas a acolheremos em descanso.
Tenhamos o melhor de nossos corações em oferenda.
Sejamos francos em compreendê-la com carinho.
Se fomos felizardos de um destino do amor comum .
Nós sabemos o que nos inspira toda essa nossa confiança.
O mais sincero entre nós dois a reconhece das desventuras.
Pois, ora sabemos, ninguém é mais solitária que a solidão.
Essa insensível dor hospitaleira persistente de vazio.
Levantaremos os nossos braços entrelaçados num brinde.
Isso é o que nós torna sábios e sóbrios em autoreclusão.
Embeberemos nossas mágoas no alto teor das lágrimas.
Comemorando no silêncio o incontido desejo ser feliz.
E nesses momentos solitários lapidaremos as melhores palavras.
As que possam revelar todas as emoções transitórias do pensamento.
Sombreando nossos olhos no tempo de muitas páginas e ricas estórias.
Nem os papéis em branco faltarão em homenagem para um lindo poema.
Nesse único momento de criação, uma linda canção embalará o seu coração.
Deixando em devaneios as suas emoções transbordarem nas aventuras.
Nessa corajosa busca inconsequente da transparente e necessária solitude.
Com o coração em penitência, sua mão será o guia das doces orações.
Frase a frase, mesclando melancolia e mágoas em suas estrófes.
Serão como as súplicas de um reincidente aprendiz no amor.
Edificando com preces divinas o nosso mágico templo de contos e versos .
Consagrando aos céus a justa recompensa da necessária solidão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Apenas um olhar


Mais uma vez o silêncio se fez presente.
Nesse breve momento pelo olhar nos encontramos.
Numa indesejada saudade dos corações palpitantes.
A voz do medo alertando pelos erros do passado.
Transformando as emoções em ressentimento.

Estamos descompassados de ilusão nos vitimando ao acaso.
Quando sublimamos essa paixão inacabada no mais puro vazio.
Um sentimento premauro coberto sob as folhas do outono.
Falemos francamente sem pressentir as mágoas futuras.

Se somos as vítimas desse desencontro passional.
Vivendo com as mãos trêmulas aprisionadas nos paradigmas.
Se resistiremos ao tempo vestidos com todas as regras.
Transparecendo calmaria quando vivemos em tempestade.

Quero saber se você abriria mão de todos os seus valores.
Se num mar revolto se arriscaria em naufragar.
E no sabor das vagas se entregaria sem ressalvas.
Sem todos os seus medos de estar em solidão.

Quero saber se você resistiria em mudar seu conteúdo.
Se insistiria em manter-se escondido nesse vazio de amor.
E no momento de chorar não se sentiria constrangido.
Sem receio de ferir-se em seus sentimentos mais nobres.

Quero saber se você se sentiria tão pequeno diante de si mesmo.
Se resistiria em olhar a vida por uma fresta o passado distante.
E nesse momento ficaria acabrunhado e escondido no anonimato.
Não se permitindo abrir nenhuma porta para sair dessa clausura.

Quero saber se a vida a cada dia mais lhe ensina a amar a si mesmo.
Se por essa insistência de cada dia você se esquece aos poucos.
E por um descuido de si mesmo consegue amar-se para amar ao outro.
Sem se importar em querer se redimir por querer amar e amar.

Quero saber se você se fortalece com seus sonhos e seus desejos.
Se as alturas não fazem o limite da sua grandeza sem medo de cair em si.
E seu corpo não se intimida com os seus fracassos e as suas frustrações.
Que idealizar seus sonhos é pensar com a essência do seu coração.

Quero saber se você é capaz de um gesto nobre perdoando-se a si mesmo.
Se percorreu todo o seu labirinto desvendando os seus segredos.
E a cada investida mal sucedida foi capaz de reconhecer-se culpado.
Que é mais doloroso dizer não a si mesmo ao assumir o próprio erro.

Quero saber se você reconhece que não existem vítimas ou culpados.
Se em todos os carentes que anseiam o amor só existe a cumplicidade.
E sem distinção estamos pactuados num jogo sem regras.
Não nos permitindo o julgamento, só a perpétua sentença de ser feliz.

Quero saber se você insiste em esquecer para continuar lembrando eternamente
Se as nossas vidas estão opostamente em paralelas.
Nesse breve momento de corações palpitantes.
O horizonte no infinito supostamente fará um novo encontro.

Será intenso, um muito breve.
Apenas um olhar.

Um bilhete ao passado


Os teus passos
N'algum lugar
Tuas pegadas
Num rumo nenhum

São rastros seguidos
Aos passos teus
São teus olhos em espanto
Buscando lugares comuns

Ah! Sequência inseparável
Muitas foram as paisagens
O passado no tempo presente
O elo perdido no vento

Te persegues sozinha
São tuas as pegadas
Seguindo sem rumo
Teus passos adiante

A insana busca de si mesma
Um lugar comum no passado
As mesmas paisagens
O sentido fazia sentido

Era inverno em toda razão
Hibernando em retiro
Corpo e alma
Sonhos e emoção

Persegue-te avante
Pergunte ao teu coração
Se foram prévios os momentos

Tua sina
Tua morte
Teu bilhete
Tua palavra

São tuas as paisagens
Recria-as aos teus olhos
Aos passos que te seguem
Um futuro momento em aguardo

Teu presente é só teu
Delegas a si mesma
Pelo amor futuro
Um bilhete para si mesma

Uma palavra apenas
Ao passado...
Adeus

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eterno recomeço - Recomeçar


Estás tão sozinha
Deslizando pelos lençóis
Nas linhas curvas do corpo
As marcas deixadas pelos sóis

Suavemente minha
Com as cores dos rouxinóis
Na pele a sensibilidade que usurpo
Dos sussuros suaves em bemóis

No segredo da entrelinha
Sua ausência nos vaivéns
Num deslizar de nuvens
Enluarando os vitrais

Abraças o vento e desalinha
Exalando o perfume que tens
Deixando os corações reféns
Na tênue linha divisória dos finais

Superas o tremor em caminhar
Sem medo de ter e se perder
Respiras esse ser, amar e crescer
Transformas a vida num recomeçar

Coisas do amor


Vou esquecer
Da sua boca o vermelho
Dos lábios o teu gosto
Da tua pele o sal
De todos os teus ais

Sem o vermelho que pulsa
O sangue que borbulha
Esqueço-me de ti
Sem sonhar teu rosto
Arrancando-te de mim

Da minha pele a memória
Da tua cama o perfume
Deixo no vento o teu cheiro
Nas ondas do mar o teu suor

Enquanto espero acontecer
Vou perdendo-me do azul
Atracando-me no cais
Criando limo no coração

Enquanto espero adormecer
Vou lembrar eternamente
Que ainda vou te esquecer

domingo, 9 de agosto de 2009

O essencial ao coração - O invisível


Quando amanhece em ti
São alvas nuvens que te veste
Descortinando o azul do firmamento
Desaguando em gotas nos meus braços

Quando anoiteço em ti
São desejos desfilando em poesias
Cintilantes como estrelas
No aconchego de teu colo

Quando há escuridão em mim
Tua luz se vai vespertina
Bailando as pétalas ao vento
Teu corpo sob raios do luar

Quando nos possuimos
Corações e espíritos tramam
Dos arbítrios a única chama
Num duplo suspiro se esvai

Quando me faço temor
Sem ser sensível aos teus sinais
Nos teus momentos de esplendor
Negar-me a criança que há em ti

Temo o invisível aos meus olhos
Amar é essencial ao meu coração

sábado, 8 de agosto de 2009

Amor


Diante aos olhos meus
Dormes serena
Dentro de mim
Renasce em ternura

Incrédulo te assisto
Desabrochando em flores
São luzes multicores
Teus aromas e segredos

Nos canteiros do teu corpo
Te transformo em meu jardim
Meu descompassado coração
Mergulha profundo e latente

Teu mar bravio em tempestade
No silêncio dizes tudo
Sussurando os meus desejos
Somas os pedaços de mim

Desvendas o meu anoitecer
Todos os medos e segredos
Que não me basto e te preciso
Preciso para ouvir as estrelas

Alcançar as minhas montanhas
Preciso para salvares de mim
Acordar sentindo saudade
Perder-me em longos abraços

Resgatar-te dos meus sonhos
Tornando-a em minha realidade
Reconhecê-la em todas as estações
Preciso encontrar-me no teu amor sem fim

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Amada nostalgia


Queria amar-te um pouco.
No tamanho exato do desejo.
Nem muito, nem rouco.

Queria possuir-te intenso.
Sem culpa, nem afoito.
No gozo infinito indefenso.

Queria tornar-me teu.
Transformar-me num louco.
Ser pouco ou muito seu.

Queria habitar-te o peito.
Mas bem sei onde moras.
Lá te encontro perfeita.

Queria conjugar-te a vida.
Reclusa em meu coração.
Nele estarás aquecida.

Queria acordar um dia.
Num lindo amanhecer
Com os pés na via.

Queria estar apenas,
Nas suas poucas lembranças
Nas entrelinhas da tua poesia.

Queria estar em agonia, amando-te
E por esse amor conviveria
Transformando-te em nostalgia

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O segredo


Queria seguir-te aos olhos
Sob o sol nas ruas
Encantadoramente linda
Terei a felicidade por amá-la infinda

Seja apenas seu coração de outrem
Somente eu saberei admirá-la única
Com seus cabelos soltos pelo vento
Sentindo-a úmida ao sabor das manhãs

Saberei da tua delicadeza de orquídea
Teu sedutor caminhar sobre plumas
Nas vestes a sensualidade que inflama
Perfumando as flores dos jardins

Este será o meu segredo
Entre mim e a natureza
Zombaremos daqueles que te desejam
Os infelizes que não te reconhecem

Apenas conhecem o corpo
De uma mulher desejada
Desconhecem a alma iluminada
Corpo e alma que a torna única

sábado, 1 de agosto de 2009

Falando no amor - Para você


Nas delicadas linhas do rosto o sorriso.
Ao longe respira esse olhar aéreo.
Sensualmente leve seu andar flutua.
Numa circunspecção pensante no ar.

Seu coração distraidamente em riso.
Num sentimento delicadamente etéreo.
Ante ao amor transparecendo nua.
Espontaneamente doce de amar.

Por tantos momentos no umbral a espreita.
Muitas das horas em companhia da lua.
Da inquietude das mãos anciosas.
Desejosa cantiga na escuridão ecoa.

Desperta nos sonhos e das razões refeita.
Refez-se de amiga a amante cativamente sua.
Esperançou-se em luz das emoções receosas.
Indescritíveis poesias em sonhos delirantes voa.

Na transparente mutualidade dos desejos.
Do desejo de amar, a outra metade.
Da suave escuridão, as estrelas.
Dos braços do mar, a areia.
Das bocas, a outra metade do beijo.
Da sensibilidade das partes, a harmonia do todo.
Falando no amor verdadeiro.
A outra metade da verdade de amar.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Amanhecer - Anoitecer


São poucas horas
Segundos perante o eterno
Neste céu ainda escuridão
Sarapintado de estrelas

Sobre o manto argênteo
Seu olhar entristecido para
Eis que suavemente se doa
Em sua claridade nua

És lua no seu amanhecer
Esvai-se no azul púrpura
Sobre as nuvens em véu
Orvalhando o novo dia

Por sobre a relva e as flores
Gotejando em lágrimas
Como se a saudade amena fosse
Suavizando o calor do sol que brilha

Uma mulher para amar
A sorrir cada dia mais doce
Anoitecida em amares as noites
Amanhecida em amores a cada novo dia

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O silêncio de amar - A lua


Vim ver-te...
Nos seus lábios o sorriso solto.
Para contemplar-te um pouco.
Pois tão nuas, são tuas.
São ruas, as suas poesias.

Vim ler-te...
Olhando nos olhos, contemplando a alma.
A inspiração que aflora, a senhora de si.
O amor..
Teu amor persiste, resiste.
Em tua fragilidade insiste e acalma.

Vim ler-te...
Passando pelas suas ruas e vielas.

Para rever-te..
Na chuva deslizando nua.

Sentir-te....
Como flutuas...

Flutuas como a lua.
Na inspiração se despes.
No silêncio de amar.

Canção de amor


São eternos seus momentos
São mágicos teus gestos
Das teclas, o branco e preto
Brando encanto nas oitavas

Silenciosamente pausas
Desejosos de harmonia
Nessa canção me perderia
Na musicalidade do teu corpo

Meu coração fica a mercê
Nas vibrações das cordas
Tatuo em minh'alma tuas clavas
Pedindo asilo em teu sentimento

Pelo teu amor divino
Sou teu anjo torto
Entrego o meu corpo
Meu par de asas

Em espírito murmuro a prece
Pelas mãos que fazem sonhos
Teu rosto que aparece
Anunciando meu destino

terça-feira, 28 de julho de 2009

A lua - enigmática mulher


Corre como um rio intenso
Pressinto e repenso

Com o frio insistente na alma
O suor gélido na palma

Nos extremos da ansiedade e da solidão
Os passos entre a penumbra e a escuridão

Quimeras de tantas nuvens
Te espero se ainda vens

Pairando no ar a descrença
Nos raros momentos de força

Com o peso da dor entre o vento
Resistindo em meu intento

Por essa dádiva desmerecida
Enquanto espero em sobrevida

Faz tanto frio em mim
Saber que a noite não tem fim

Querendo o céu descortinando em estrelas
Piscando milhares de luzes brancas e amarelas

Como se fossem as gotas de lágrimas
Derramando as palavras em rimas

Pingando nas bordas das arandelas
Sem o teu colorido das aquarelas

Como se pairando no ar de emoção
Deixando-se seduzir de contemplação

De estar flutuando em seu sorriso
Não sei se choro ou me faço em riso

Enquanto te espero amorosamente nua
Magestosamente enigmática lua

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Prelúdio de amor - Sem você


Ah, que saudade infinda
No tom cinza do mar.
Essa melodia inacabada
Numa fria tarde de cruz
Nossa canção imaturada

Há muita saudade ainda
Nos olhos calados no ar.
De ver renascer do nada
Essa mulher se fazendo em luz
Ao se dar em amor calada.

Há desamor espalhados nos vãos
Conservando no peito uma chama sem cor
Teus abraços buscando a verdade
Sob o luar num jardim sem flor.
Num barco ancorado sem mar

Ah, queria num encontro de mãos
Num sentimento de dor que não é dor
Dizer que a tristeza que tenho é saudade
Entregando-te os sonhos sem temor
Vibrando nos tons, a sua melodia no ar.

Ah, essa espera de alguém que atenta
Transpor a triste agonia em outrora
Amparar-te no afago que encanta
Libertas expurgando o restrito
A sorrir embelezando a flor

Ah, vida que o tempo acalenta
Apreciando o resplendor da aurora
Assiste essa moça que canta
Ruborizada de esplendor constrito
No perfeito prelúdio de amor